Experiência em Genética
 Renato Uchôa
Juiz OBJO
Nós, criadores de POAS, sempre tivemos a Inglaterra como  referência em qualidade nos periquitos. A tal ponto de ser voz corrente  no Brasil, "periquitos inglêses". Esse erro me incomoda, pois como  sabemos, os periquitos australianos são originários da Austrália,  cabendo aos Inglêses a seleção desses animais por quase 2 séculos.  Diante disso eu prefiro o têrmo periquitos australianos selecionados.
Como vários criadores brasileiros, eu, nas décadas de  70, 80 e 90, importei periquitos de vários criadores inglêses e montei  meu plantel com seleção baseada nesses sangues, e usei a consanguinidade  nesse processo.
Vivendo numa região de criação de gado (principalmente  da raça Nelore), e tendo contato com veterinários e criadores  especializados em Nelore, comecei a me interessar pelos trabalhos  genéticos que eram usados no gado. Nessa época (final dos anos 80, e  início dos anos 90), a empresa Manah estava fazendo um trabalho que  chamou minha atenção. No Brasil existiam 2 linhagens de Nelores, a  Indiana (de gado trazido diretamente da Índia), e a Lengruber (Família  Alemã que trouxe  exemplares Nelores de um zoológico da Alemanha nas  primeiras décadas do século pássado). A linhagem Indiana foi  desenvolvida em São Paulo, enquanto a linhagem Lengruber no Rio de  Janeiro. A seleção dessas duas linhagens foi diferente uma da outra, por  exemplo, em São Paulo a seleção foi para a produção de carne, enquanto  no Rio, como as pastagens eram mais pobres e o solo montanhoso, a  seleção incluiu habilidade materna, leite e carne.
Voltando agora à Manah, o projeto genético realizado por  eles, foi de cruzar a linhagem Indiana (paulista), com a linhagem  Lengruber (Rio de Janeiro). Isto se chama heterozigose. Com isto a Manah  consegiu resultados impressionantes em melhoria de raça e fertilidade.
Nesta época, conhecendo este trabalho com gado, resolvi  que o caminho que deveria tomar, era procurar um criador que estivesse  fazendo sucesso, e com um sangue fechado, como o meu. Em 1995, adquiri  pássaros do Jo Mannes, criador alemão, que fez uma seleção diferente dos  inglêses. A heterozigose deu um resultado muito bom no meu plantel,  tanto que todos meus pássaros têm hoje sangue Mannes.
Em 2005, dez anos após a introdução do sangue Mannes,  resolvi fazer um nova incursão na heterozigose, fui para a Suiça, e  adquiri pássaros do Daniel Lutholf. Hoje, já criei em torno de 80-100  filhotes, e novamente o resultado foi impressionante.
Uma discussão que sempre está na moda em todo mundo,  Qual é o caminho correto para o melhoramento genético ? Consanguinidade  ou cruzamentos abertos ? Até hoje, minha conclusão em relação a como  evoluir na criação, é a de usar a consanguinidade, e a cada tanto,  escolher com outro criador que use a consanguinidade, indivíduos para  promover a heterozigose. Não sou seguidor do cruzamento aberto.
Cabeça Suja
Qualidade ou Defeito ?
Renato Uchôa
 Juiz OBJO
     "Cabeça suja", qualidade ou defeito?
     A resposta a esta pergunta é facil: defeito.  Entretanto quando pensamos num defeito as perguntas que logo surgem são:  É um defeito desclassificante? É sempre transmitido aos descendentes?
     A importância destas perguntas é evidente, e  sabemos que a determinação no mundo todo é, que os juizes penalizem mas  não desclassifiquem o pássaro "cabeça suja". A resposta à segunda  pergunta é que pode-se criar "cabeças limpas" de "cabeças sujas". Assim  sendo, é claro que o ideal seria criarmos sempre pássaros fantásticos  sem estes defeitos, o que nem sempre é possível. 
     Em minha opinião a melanina tem um papel  importantíssimo no tamanho de corpo, tipo de pena e empenação dos  periquitos. Assim sendo eu particulamente acho que é bom termos alguma  coisa de "cabeça suja" no plantel, desde que o pássaro seja "fora de  série" e que não percamos o controle deste "defeito", ou seja que a  grande maioria do plantel seja "cabeça suja". O ideal é que a grande  maioria seja "cabeça limpa".
     Este problema tem sido discutido ao longo dos  anos, e creio que a opinião por mim aqui relatada é a opinião de  consenso no mundo.
Uma Ocorrência e suas Implicações
"Serragem" - Artigo  publicado em 1990
Renato Uchôa
Juiz OBJO
      Uma das condutas mais importantes e que já está  arraigada no meio dos criadores de periquitos australianos, é o uso da  serragem nos ninhos. Lembro-me bem, quando por volta de1977, perdíamos  uma alta porcentagem de ovos cheios por causa de sujeira nos ninhos,  naquela ocasião, não se usava serragem nos ninhos. Acho que todo criador  hoje em dia usa serragem nos ninhos e procura manter seus ninhos limpos  e com uma boa quantidade de serragem. 
     Isto posto, vem a pergunta, que tipo de serragem  deve ser usada ? Esta resposta, creio eu, todo criador já deu sem  pestanejar, e errou. Nas duas viagens que fiz à Inglaterra, pude notar  que os criadores lá, compram a serragem em sacos plásticos selados  erméticamente e esterelizada. Esta conduta está baseada nos trabalhos  feitos pelo Dr. John Baker, sobre infecções intra-ôvo secundárias a  serragem contaminada como causa de morte na casca. Desde que adotei a  conduta de esterilizar minha serragem para diminuir a morte na casca,  estou perdendo menos ovos cheios. Entretanto, a importância e a razão  deste artigo não está nestas colocações anteriores, mas sem nenhum  incidente grave e de grandes proporções que ocorreu comigo na minha  criação de "Pindorgas". 
     Como alguns amigos sabem, toda a minha criação  vem de pássaros de linhagem inglesa e uma criação separada em sociedade  com um amigo que fica numa chácara separada totalmente dos pássaros  importados. Obviamente, eu faço como todos os criadores, pego a serragem  com algum amigo que tenha uma serralheria, pedindo ao mesmo que separe a  serragem melhor ou escolhendo eu mesmo, sempre com todo cuidado de usar  a serragem que não tenha ficado exposta ao tempo. Aqui cabe esclarecer,  que a serragem que eu uso no meu criadouro, não é a mesma usada pelo  meu sócio com os Pindorgas.
     Nos últimos 3 mêses, começamos a perder filhotes  na criação dos Pindorgas em alta porcentagem. Os filhotes morriam com o  papo cheio e com mais ou menos 15 a 20 dias de idade, o que na minha  experiência é incomum. Perder filhotes com até 3 dias pode ocorrer com  certa frequência, mas filhotes com aquela idade, não. Chamou-me a  atenção que algumas fêmeas que estavam criando, começaram na mesma época  ter dificuldade para voar e uma perda no senso de direção. Comecei  então a examinar os filhotes que morriam (e diga-se de passagem foram  mais de 500), e a autopsiá-los. Os achados de autópsia eram sufusões  hemorrágicas em pele, pulmões, fígado e intestinos. 
     Com estes resultados, comecei a achar que os  filhotes estavam morrendo por intoxicação provavelmente a algum veneno. A  explicação a que cheguei era de que o filhote desde o nascimento  estivesse em contato com um veneno que ia se acumulando no organismo até  chegar à dose letal, o que ocorria em torno dos 15 dias de vida. Esta  explicação se aplicava também às fêmeas que em sendo maiores, o veneno  provocava distúrbios neurológicos, sem no entanto chegar a ser fatal. A  partir daí, começamos a procurar de onde estaria vindo esse veneno. Foi  trocada toda semente que estava sendo usada, substituída a fonte de água  e suprimida toda a alimentação suplementar como cenoura, almeirão,  milho verde e papa. Com todas essas providências tomadas, achei que o  problema estaria sanado, qual não foi minha surpresa ao constatar que  tudo caminhava da mesma forma. 
     Foi aí então que levantamos a possibilidade de  ser a serragem a culpada pelo grande estrago. Nossa idéia está calçada  no conhecimento do uso indiscriminado de veneno na madeira pelas grandes  serralherias, com o intuito de protegê-las dos cupins ou outros insetos  durante o período de secagem da madeira já trabalhada e que iria ser  usada pelas seralherias menores ou fábricas de móveis. A partir dessa  conclusão, fizemos nossa própia serragem, a partir de eucalipitos e  pinhos que haviam na própia chácara e que haviam sido cortados lá mesmo.  Tínhamos a certeza de que não estavam com qualquer tipo de veneno. O  resultado da troca de serragem foi espetacular, e acabamos com o  problema da morte dos filhotes assim como os distúrbios das fêmeas.  Depois disso, já separamos 400 filhotes sem nenhum incidente.
     Assim sendo, acho que todos nós devemos  trabalhar com cuidado com "cabeça suja" como com qualquer outro defeito  pois poderemos caminhar para uma situação sem volta. Não podemos  esquecer que nosso objetivo é a procura da perfeição.
Herança Ligado ao Sexo
Renato Azevedo Uchôa
O conhecimento da Herança Ligada ao Sexo é fundamental  para o criador de periquitos, uma vez que hoje se sabe a importância que  ela exerce no tamanho e qualidade das penas. Fatores como opalino e asa  canela são usados com o intuito de correção e melhoria das penas. No  periquito australiano a Herança Ligada ao Sexo rege o acasalamento para  os fatores: opalino, asa canela, lutino, albino, e lacewing (asa  rendada). Assim, neste artigo, quando dermos um exemplo de qualquer dos  fatores acima, ele é igualmente válido para os outros fatores. Na  Herança Ligada ao Sexo, o Gen que determina um fator, se encontra no  cromossomo que vai determinar o sexo do descendente, daí o nome. A  representação usada na Herança Ligada ao Sexo é:
XX - representa o cromossomo do sexo masculino;
XY - representa o cromossomo do sexo feminino;
Assim, todo cruzamento ligado ao sexo será representado  da seguinte forma:
XX (macho)                    x                    XY  (fêmea)
Obs; O símbolo Y na fêmea, significa ausência de gens  determinantes da característica. Assim sendo, ele determinará o sexo  feminino do descendente, porém não vai determinar os fatores opalino,  canela, inos e rendados. Como já visto no artigo anterior, aqui também  temos que ter em mente que o gameta (óvulo ou espermatozóide) quando for  formado terá apenas a metade dos cromossomos, assim sendo:
periquito macho XX produzirá dois tipos de gametas XX  (teremos espermatozóides com símbolo X)
periquito fêmea XY produzirá dois tipos de gametas XY  (teremos óvulos com símbolo X e símbolo Y)
Como já dito anteriormente, os fatores ligados ao sexo  vão ter os gens apenas nos cromossomos X e não vão existir no cromossomo  Y. Assim, as possíveis representações nos cromossomos, vamos  convencionar da seguinte forma:
X'op (cromossomos X portando o gen determinante do fator  opalino)
X'can (cromossomos X portando o gen determinante do  fator asa canela)
X'ino (cromossomos X portando o gen determinante do  fator INO)
X'lw (cromossomos X portando o gen determinante do fator  Lacewing/rendado)
Neste ponto podemos chegar à conclusão fundamental e que  deve ser guardada por todos; na Herança Ligada ao Sexo em periquitos  australianos, para que o macho mostre o fator, é necessário que ele  esteja presente em ambos os cromossomos. Já para a fêmea ele necessita  estar presente em apenas um dos cromossomos (no caso o X). Assim, os  machos poderão ser portadores (split) para um fator ligado ao sexo, ao  passo que as fêmeas jamais serão portadoras (split). Exemplificando:
XX - macho normal
X'X (op) - macho portador de opalino
X'X' (op) - macho opalino
XY - fêmea normal
X'Y (op) - fêmea opalina
Obs; os gens determinantes dos Fatores Ligados ao Sexo  podem estar presentes nos cromossomos em números variados, por exemplo:
X'' (op, can) cromossomos com genes para opalino e  canela;
X'' (op, ino) cromossomos com genes para opalino e INO;
X''' (op, can, lw) cromossomos com genes para opalino,  canela e lacewing;
Também quando pensamos no genótipo dos indivíduos,  poderemos ter uma variação enorme:
X''X' (op, can) (ino) - macho portador de opalino canela  e Ino;
X'''X (op, can, Ino) - macho portador de opalino, canela  e Ino;
X''Y (op,can) - fêmea opalino canela
X''Y (op, Ino) - fêmea opalino Ino (Lutino ou Albino),  etc...
Para finalizar, resta-nos saber, como devemos proceder  com os acasalamentos, e até devemos apenas aplicar o que vimos  anteriormente. REPRESENTAÇÃO DE UM ACASALAMENTO USANDO A HERANÇA LIGADA  AO SEXO:
Macho XX         x         Fêmea XY  =  (50% de  indivíduos machos, e 50% fêmeas)
Exemplificando um acasalamento com vários Fatores  Ligados ao Sexo:
Macho opalino lutino e split de canela         X         Fêmea canela
X'''X'' (op, lut) split  (can)                                       XY' (can)
Filhotes:
X''' X' Macho canela, split de opalino e lutino;
X'''Y Fêmea opalino, canela e lutino;
X''X' Macho split de opalino, canela e lutino;
X''Y Fêmea opalino e lutino.
Compra de Periquitos Australianos
Renato Uchôa
Juiz OBJO
     Há anos bato numa tecla, e por mais incrível  que pareça, todo ano presencio sempre a mesma situação, tanto com novos  criadores como com criadores já experientes. Reclamação sôbre compra de  pássaros, e elas são inúmeras: não criou, morreu, criou filhotes com  defeito, ficou doente e não mais se recuperou, não acrescentou nada ao  plantel, etc, etc, etc...
     Há uns 18 meses entrei num programa de  produção e criação de ovelhas de uma raça nova chamada Hightlander, e  este programa está sendo iniciado no Brasil por uma empresa chamada  Rissington da Nova Zelândia. Eles nos vendem reprodutores machos para  serem usados em ovelhas comuns, e em 4 gerações teremos o puro por cruza  (machos e fêmeas). Uma vez decidido que nós iniciaríamos uma criação de  ovelhas, saí comprando fêmeas para servirem de matrizes para os  reprodutores Hightlander. Adquiri ovelhas de vários criadores da minha  região e fiz um plantel. Eu já sabia, como criador de periquitos que  sou, que iria ter problemas, pois estava adquirindo animais de  diferentes procedências, o que acarretaria em somar problemas.  Obviamente os problemas ocorreram e foram muitos: mortes, doenças  crônicas, fêmeas inférteis, etc, etc, etc. Hoje, passados 18 mêses,  posso dizer que consegui estabilizar o plantel, com ajuda das mortes, de  haver vendido os descartes e com os nascimentos conseguidos.  Entretanto, sei que tenho ainda um longo caminho a percorrer, que é me  esmerar na criação e seleção deste plantel que ficou. Por tudo isto acho  que só agora vou começar minha criação de ovelhas.
     Na minha opinião, qualquer criação usa as  mesmas regras:
1) Procure conhecer primeiro sobre a criação que  você quer iniciar.
2) Visite o máximo possível de criadores e  criações.
3) Estabeleça o local disponível, e se  ele apresenta boas condições para a criação.
4) Organize o material disponível e monte o  criadouro.
5) Programe o início da criação: como e onde  adiquirir matrizes, valor disponivel para isto e quantidade de animais  necessários e possíveis. 
6) Se possível escolha um criador experiente para  adquirir dele o plantel, procure seguir os passos pelo menos no início  deste criador. Sempre que possível compre passaros jovens (filhotes).
7) Só pense em abrir o sangue quando estiver  criando bem e se houver extrema necessidade.
8) Procure selecionar o plantel e use a  consanguinidade com técnica, de preferência line breeding  (consanguinidade de segunda ou mais geração)
     Acho que se você quer ser um bom criador, tens  aí algumas boas dicas para que não "quebres a cara".
